sexta-feira, 17 de junho de 2011

Caro Aluno

Você está convidado a participar dessa fascinante e inusitada aventura que faremos, através de uma seleção de imagens e textos, sobre Brasil republicano. Quando você pensa em nossa sociedade, o que lhe chama mais atenção? Se tivesse que retratá-la, que instrumento utilizaria?

Você sabia que nós vivemos em uma sociedade marcada pela imagem? Não imaginamos chegar em nossas casas e não ligarmos nossa televisão, computador, não é verdade? As informações de jornais, revistas, blogs etc., nos parecem mais interessantes ou nos chamam mais a atenção quando conseguimos visualizar, quando podemos olhar as imagens ou as ilustrações que aparecem ali. O nome da técnica que utiliza e trabalha com imagens é a iconografia que ao utilizá-la o faz com a finalidade de representar o tema desejado. A História, a disciplina que você aprende na escola, também utiliza as imagens no seu dia, basta observar seu livro didático.

Você conhece essa pessoa? Sim ( ) Não( )

Caso a resposta seja sim, você terá a oportunidade de conhecer mais um pouco, caso a resposta seja não nas próximas páginas teremos a oportunidade de conhecer melhor quem esta sendo representado nessa imagem!

Sendo assim, seja bem vindo!

A imagem acima é "Tiradentes", de Décio Villares.

terça-feira, 14 de junho de 2011

República Proclamada

Conhecendo um pouco mais da nossa História!

O fim do Império e início da República, não aconteceu de forma rápida com revolta burguesa ou popular. Pelo contrário ela ocorreu de forma gradual, aproveitando a permanência de estruturas políticas, econômicas e sociais.

Vamos ler o que a historiadora Lúcia Maria Pereira das Neves tem a nos informar em relação à Proclamação da República: “Na manhã de 15 de novembro de 1889, Deodoro, Frente de um batalhão, marchou para o Ministério da Guerra, retirando do gabinete o representante da Monarquia, pois, D.Pedro II estava em Petrópolis se abrigando do forte calor que estava no Rio de Janeiro”. Depois de um longo período de Monarquia ela se encerrava no dia 18 de novembro de 1889 com a família Imperial indo para Europa. Iniciava o governo provisório liderado por Deodoro da Fonseca. O presidente agora passava a ser escolhido por voto através das eleições pelo “povo”.

Ué, mas como o voto era da população se analfabetos não podiam votar, menores de 21 anos, mulheres e soldados rasos, ou seja, somente a “elite” votava nesse tempo. A República queria apagar da memória da população à lembrança da Monarquia construindo uma nova Identidade, mas a população tinha forte consideração por D.Pedro II e pela Princesa Isabel principalmente os mais humildes que em sua maioria eram ex escravos, e não aceitavam a República. São criados os símbolos nacionais para que a República fosse aceita mais facilmente pela maioria da população.

Deodoro da Fonseca, primeiro Presidente da República do
Brasil. Museu da República. Tratamento de Imagem Janda Praia.

Marechal Deodoro da Fonseca, esta sendo representado através dessa iconografia acima com a faixa presidencial. Observem algumas características importantes nessa representação do Marechal. A barba branca, sinal de experiência necessária para organizar o novo regime político que estava surgindo, a farda, de eventos importantes, simbolizando que o Brasil estava celebrando um novo momento em sua história, todas as medalhas simbolizavam as vitórias ou gratificações que Deodoro da Fonseca havia recebido, O Marechal era um líder vitorioso. Os militares retornam da guerra do Paraguai, mais questionadores em relação à Monarquia, vocês conseguem observar outras características além dessas citadas?

Mito de Tiradentes

Você sabe o que é mito? Então, vamos entender primeiro o que é um símbolo. Figura ou imagem que representa o que é real na visão do autor; pode ser existente somente nas idéias, sem base material, logo, que não se vê. Nas Artes representa o que não faz parte do mundo real. Ta! Mas o que isso tem haver com o Mito de Tiradentes?

O mito serve para explicar simbolicamente uma tradição, regulando uma sociedade, o mito explica determinada cultura através da criação de deuses, semi-deuses e heróis (nesse caso se esse for associado a algum tipo de sacrifício ele será valorizado ainda mais, pois, herói que se preze tem que atender a necessidade da sociedade). No caso da primeira República brasileira, esse “novo” mito, Tiradentes, cumpre o objetivo de “ofuscar” o mito principal do Império que foi D. Pedro I. Afinal de contas ele havia tornado o Brasil independente de Portugal.

Acreditamos que por não se tratar de um movimento de origem popular ou por não envolvê-la diretamente, a República não construiu personagens que pudessem marcar sua realização, tendo encontrado dificuldades em formar seus próprios heróis, daí a re-apropriação de alguns personagens e de seus ideais, aproximando-os do imaginário que se queria construir para a República. Pensamos que os participantes do movimento de 15 de novembro não tinham prestígio junto à população mais humilde, dentre esses incluímos os ex escravos que tinham adoração pela figura do imperador D. Pedro II e sua filha Princesa Isabel, logo, foi necessário buscar em nossa história algum personagem que pudesse representá-la, transformando Joaquim José da Silva Xavier em herói. Assim a República se apropria e transforma a imagem de Tiradentes.

O alferes passava a ser retratado com características que permitissem uma leitura dos ideais deste novo regime. Em algumas imagens Tiradentes será retratado com cabelos e barbas longas, com vestimentas simples, mas por curiosidade, poderíamos nos perguntar se sua representação estaria de acordo com a realidade, pois em geral, prisioneiros têm seus cabelos e barbas raspados. Será que a construção desta imagem de Tiradentes, com cabelos e barbas longas, não tinha como intenção aproximá-lo da imagem de um Jesus, para uma maior assimilação da população, especialmente dos mais os humildes, ou seja, a população não conhecia Tiradentes, mas reconheceria nesta imagem características simbólicas comuns a do redentor ou salvador “Jesus Cristo”, o que implicava em ver a República também como redentora. Assim, Tiradentes passava a ter aceitação popular, seguindo a lógica, se Jesus Cristo era o Salvador das Nações, Tiradentes era o salvador da Pátria brasileira. O sacrifício como fenômeno caracterizava ambos com a libertação e conquista de uma nova realidade. A República foi proclamada há 122 anos, era então proclamada por um salvador, que nos permitira conquistar um novo regime e uma condição de país próspero e moderno. Consolidava-se portando a imagem ao fato histórico e se constituía a partir disto um símbolo, que torna praticamente impossível não pensarmos em Tiradentes como salvador da Pátria e herói nacional, como aparece abaixo:

Martírio de Tiradentes, óleo sobre tela
de Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo (1854 — 1916).

Existem historiadores (Como Kenneth Maxwell) que referenciam Tiradentes como um “bode expiatório”, pois afirmam que ele sendo Alferes (Sub-Tenente) não sabia por completo de todos os planos da Inconfidência Mineira e, portanto, não comandaria coronéis, militares e intelectuais que foram outros personagens que participaram da Inconfidência. Mas para República era importante recuperar alguns elementos de um fato como a Inconfidência e incorporá-la aos ideais de liberdade. Segundo Kenneth Maxwell (Maxwell, A devassa da devassa. p.220), “Tiradentes enfrentou a morte de forma bastante serena, clamando para si a responsabilidade da Inconfidência, defendendo Minas Gerais, livre e republicana”, perfil que se enquadrava perfeitamente as necessidades de construção da imagem e de uma identificação nacional para a população, que a República almejava consolidar.

A partir desse fato podemos dizer que para atender as aspirações da sociedade (mais propriamente dos mentores da República) a imagem de Tiradentes foi forjada e renovada continuamente para representá-la. Como nos dizia José Murilo de Carvalho (Carvalho,A Formação das Almas,p.41), “o segredo da vitalidade do herói talvez esteja afinal nessa ambiguidade, em resistências aos continuados esforços de esquartejamento de sua memória”.

Identidade Nacional

O Que é Identidade Nacional?

Dentre os diversos significados para essa frase optamos por trabalhar com o seguinte: A afirmação da Identidade Nacional tem, dentre suas finalidades, legitimar novas formas de governo, bem como, convencer e tentar trazer para si a população conseguindo a aprovação e apoio de decisões políticas direta ou indiretamente, no modo de vida presente e futuro, e uma das técnicas utilizadas com maior êxito para esse fim, é a “iconografia”; uma espécie de “linguagem visual”, que se utiliza de imagens, com a finalidade de representar o tema desejado. Porém, cabe a população assimilar da melhor maneira possível. Por isso aceitamos até hoje a imagem de Tiradentes como um símbolo que representa nossa Identidade Nacional.

Por isso a Identidade Nacional, não é uma fórmula pronta. É algo que varia de pessoa para pessoa. Se um indivíduo gosta de futebol, a sua Identidade Nacional passa pela seleção de futebol torcendo e comemorando as vitórias chorando pelas derrotas da seleção de seu país. Mas para quem não se sente atraído por esse esporte, à seleção não lhe dará o orgulho nacional, mas se esse mesmo indivíduo gostar de literatura nacional, os escritores do seu país serão parte da sua Identidade Nacional esse indivíduo sentirá orgulho de esta lendo uma obra de um escritor com a mesma nacionalidade que a sua Identidade passara então pelo sentimento de se sentir pertencente aquela pátria. A República precisava forjar uma Identidade Nacional, por isso precisava utilizar um elemento aglutinador para reforçar os ideais positivistas (Criação do Mito do Herói Nacional).

Podemos dizer que a partir do mito da figura de Tiradentes a perspectiva a princípio seria atingir a memória coletiva da população, e sua ideologia iria crescendo (Tiradentes como salvador da pátria herói nacional), ficando armazenado no imaginário da população e sendo transmitida como herança de geração em geração formando uma Identidade Nacional. Até porque “Identidade Nacional não é uma fórmula pronta”.